HISTÓRICO-MONTE ALEGRE DE GOIÁS
14/09/2010 15:31
MONTE ALEGRE DE GOIÁS
FUNDAÇÃO
Santo Antônio do Morro do Chapéu
Santo Antônio do Morro do Chapéu, hoje Monte Alegre de Goiás, é uma cidade como muitas das outras de Goiás, em se tratando da história de fundação, na qual se fundamentou a partir do garimpo de ouro, tendo 1.800 escravos aproximadamente trabalhando em suas minas. Sua fundação foi em 1769 e deu-se devido à descoberta de grandes jazidas de ouro no local, denominado morro do chapéu. Vieram várias famílias descendentes de Portugueses para trabalhar na exploração de ouro e outros metais, onde empregaram o trabalho escravo. E foi então que surgiu a comunidade quilombola Kalunga, remanescentes de Quilombos, de negros que ali se refugiavam, achando abrigo na serra da Contenda. Essa comunidade guarda os costumes tradicionais dos negros vindos da África e é considerado Patrimônio Histórico e Cultural. Sua fundação conforme relatos e documentos têm sua origem em berço de ouro, graças aos garimpeiros paulistas que procurando jazidas encontraram aqui fartura para garimpar. Extraíram muito ouro não precisando mais voltar a São Paulo, permaneceram aqui mesmo, constituíram família, contribuindo para a formação do Arraial do Morro do Chapéu, assim chamado devido ao aspecto geográfico do morro que parece um chapéu sem aba, embora haja outros relatos de que o nome Chapéu surgiu depois de encontrado um chapéu nas imediações do morro, supostamente de um bandeirante devorado por animais selvagens existentes na época como onças e outros. O Arraial cresceu com os esforços de habitantes através do trabalho escravo nas minas de ouro e cada vez mais atraía pessoas, pois o valor do ouro era esplêndido. Até 1950 ainda existiam muitos garimpos na vila de Chapéu, o que fez surgir o Povoado Riacho dos Cavalos, através do garimpo de cassiterita e tântalo. Não havia aqui um comércio capaz de suprir as necessidades existentes na época, Barreiras era então o pólo comercial, onde os comerciantes buscavam toda a mercadoria como: sal, café, calçados, tecidos, chapéus, querosene, cintos, meias, mantas, sombrinhas, xales para as senhoras ricas, guarda-chuva, ceroulas e muitos outros objetos. Havia uma prática de comércio hoje praticamente extinta, que era a troca de mercadorias. De Chapéu para Barreiras Bahia, eles levavam produtos para serem vendidos ou trocados por outros como: rapadura, açúcar da terra, couro de bois, animais, farinhas, cachaças e licores. As dificuldades eram muitas, levavam meses para se deslocarem com suas tropas e cargueiros que eram coordenados por bagageiros, que organizavam o lugar de pouso do pessoal que tocava os burros e cavalos com cargas de cereais e outros produtos.
ESPORTE
O esporte tinha sua referencia maior nas escolas pelos professores das disciplinas, era na verdade uma pratica de interação entre todos, envolvendo porteiros, serventes, crianças e professores que brincavam no recreio. A disciplina era invejável em vista de hoje que tem um professor especializado para o esporte (Educação Física), às vezes a criança expressa rebeldia devido o roteiro de aulas sem exercícios físicos, ao contrário daquela época onde todos os professores trabalhavam com jogos e brincadeiras de acordo com a idade das crianças. Segundo estudiosos e até mesmo pessoas que estudaram nesta época a maneira de ensinar o esporte na escola infantil ajudava a desenvolver a criança em inúmeros aspectos. Hoje o esporte segue a modernidade em alguns aspectos, tendo atividades esportivas em desenvolvimento contínuo no futebol, vôlei, entre outros. Monte Alegre de Goiás hoje conta com inúmeros jovens, que se destacam no esporte e em atividades culturais.
RELIGIÃO e CULTURA
Sendo a cultura um verdadeiro componente essencial no desenvolvimento de qualquer nação, nosso dever enquanto cidadãos Montealegrenses, é fazermos com que nossa cultura seja divulgada, preservada e respeitada como nossa identidade perante a sociedade atual e às gerações futuras. É através desta consciência que nossa comunidade e sociedade em geral venham participar e contribuir para o bem coletivo junto aos fatores econômico, sociais e culturais nos quais se apóiam à ética e a cidadania de um povo, que se orgulham de nossa identidade cultural.
Monte Alegre de Goiás e um município rico em diversidade cultural e biográfica, tendo como base atrativa a hospitalidade de seu povo que com simplicidade e carinho apresenta as riquezas culturais distribuídas em todo nosso município, em suas festas tradicionais, expressões religiosa, expressões afro-brasileira (quilombos kalungas).
Aqui as cores se misturam às línguas que por sua vez dão origem as letras e as canções, acompanhadas de ritmos, fé e amor às coisas de nossa terra. É um verdadeiro reencontro do passado com o presente, alegrando os corações que outrora eram saudade, hoje alegria contagiante. Durante todo o ano nosso povo busca se integrar uns com os outros, vivendo e revivendo a cultura viva e as diferenças que aqui se fazem palco da vida e da arte.
Com a chegada dos bandeirantes, as primeiras manifestações religiosas ligadas ao catolicismo foram inicialmente implantadas no local onde os primeiros evangelizadores foram os próprios Bandeirantes. Os principais fatores que influenciaram na criação do catolicismo, foi a descoberta do ouro e a vinda de novos grupos atraído pela atividade aurífera. No início as celebrações eram realizadas em um rancho construído pelos Bandeirantes onde rezavam o terço e a ladainha, tempos depois criaram uma capela de tijolo no mesmo local. Logo em seguida essa capela foi derrubada e iniciou-se a construção da atual Igreja Paróquia do Chapéu neste período os rituais religiosos eram realizados nas casas dos devotos. A igreja Matriz Santo Antônio foi criada em 1915 e concluída em 1920. Após a criação da paróquia do Chapéu pertencente à nova diocese de Porto Nacional os padres dominicanos e os diocesanos passaram a dar assistência na Paróquia, entre eles podemos citar João de Deus, e o atual padre José Maria Teixeira. Os padres vinham somente em datas periódicas e celebravam as missas, realizavam batizados e casamentos. A catequese era ensinada em família, depois passou a ser em comunidade. A partir de 1978 passou a ter um padre fixo que foi o padre José Maria Teixeira.
Na religião, os pais ministravam o ensino religioso em casa, também pelos professores na escola e pelo padre quando vinha na cidade. As primeiras orações eram ensinadas aos filhos pelas mães como forma de expressão da fé e proteção do corpo e da alma. As pessoas não liam a bíblia e também não a conheciam, mas tinham o catecismo e um caderno de anotações religiosas. As rezadeiras dirigiam as festas religiosas e as celebrações na igreja com seus benditos, rezas, cantos e ladainhas que eram cantadas e rezadas em latim. As famílias com muita fé passavam os costumes para os filhos.
A religião católica era predominante na época, não existiam outras religiões. Somente após a vinda de muitas outras pessoas atraídas pelos garimpos de ouro é que surgiram outras seitas protestantes. Outro fator que fez surgir outras religiões e novas idéias de igreja se deu através dos filhos que iam estudar fora e voltavam trazendo novos valores, mas mesmo assim prevalecia o maior número de católicos na cidade e na zona rural.
TRANSPORTE
O transporte era dividido em duas escalas sociais: pelos menos favorecidos de recursos financeiros eram muito precários (feito a pé, em costas de burro, cavalo, jumento e carro de boi) as famílias mais ricas se locomoviam em alguns jipes velhos, carroças, velhas caminhonetes e o famoso fusca. Era freqüente o uso de cargueiros e balaios para transportar os produtos da roça para vender na cidade.
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
O abastecimento e o uso de água eram feitas através dos rios Sucuri, da Biquinha do Gonçalo, do Salobro, Lava- Pés, Cacimba do Padre e outros. As roupas eram lavadas no Rio Sucuri, no Gonçalo, Atalaia e Pagão. Nos anos 70 foi instalada água encanada na cidade, porém apenas em algumas casas daqueles com maior poder aquisitivo. A maioria das pessoas buscava água potável na Cacimba do Céu, encima do morro da cruz, essa água era também usada para cozinhar. Hoje Monte Alegre é abastecido pelo Rio Sucuri, que corre o risco de ser extinto, devido às agressões humanas como as queimadas, o lixo, os desmatamentos, gasto excessivo de água, entre outros.
ECONOMIA
Chapéu, hoje Monte Alegre de Goiás, sempre baseou sua economia na pecuária, na agricultura, madeira de lei e mineração. Na exportação: gado, madeira, rapadura, açúcar mascavo, queijos, telhas comuns, ovelhas, bodes, galinhas caipiras, pinga da terra, tecidos de algodão, redes de algodão, pele de couro de gado, crochês, bordados. Os moradores importavam sombrinhas, tecidos, chapéus, querosene, álcool, selas, arame, pregos, material de limpeza, café, açúcar cristal, sabonete, calçados, jóias, roupas, macarrão, linhas, agulhas, papel, sabão, móveis, aparelhos eletrônicos e eletro domésticos e carros. Atualmente Monte Alegre de Goiás se destaca na agricultura e pecuária, entre outros potenciais de produção.
Artesanato
O artesanato em Chapéu se destacava com tradição, os artesãos praticavam belas artes com madeira: gamelas, pilões, bonecos, mini-engenhos, mini-carros de boi, bodoques, estribos, colheres de pau, gaiolas, bandejas, pratos, camas, tamboretes, cadeiras, alça de cangalhas, rodas de fiar, e outros. Com o barro, os artesãos fabricavam panelas, pratos, potes, botijas, tigelas vasos, bandejas, cuscuzeiros, copos e outros. Com o couro não faltava criatividade e a utilidade do mesmo eram varias na fabricação de: chinelos, sandálias, cintos, camas, cabrestos, rédeas, bainhas de facas e facões, chapéus, capangas, botas, polainas, bruacas, coletes, peias para cavalos, fusos, chicotes, chibatas, malotes, arreatas. O couro era curtido nas fazendas, povoados e fundo de quintais, e eram vendidos aos sapateiros que faziam toda espécie de trabalho com esta sola, todos os fazendeiros abastados (ricos) tinha seu tanque de curtume e fazia sua própria sola que usava e vendia aos outros. Somente flores de papel demoravam muito para serem feitas, devido à vinda dos papéis coloridos, da cola, da tinta, do arame e do spray, demorarem a chegar. Ainda faziam brinquedos de buriti, que fazia sucesso nas escolas, pois era uma planta que se encontrava em todas as fazendas. Entre os brinquedos se destacava bonecos, gaiolas, aviões, carro de boi, caminhões, boneco teimoso, miniaturas de camas, currais, casas e outros. O bordado era também praticado por bordadeiras, senhoras que costuravam a mão para toda a família e ainda cobria os botões e fazia casas, usavam almofadas com bilros para fazer lindas rendas que eram até exportadas para Barreiras - BA. As garotas ainda pequenas eram ensinadas a costurar a mão, fazendo roupas de bonecas e assim se tornavam ótimas costureiras, também costuravam com maquina de mão, roda de madeira, e com a linha teciam nos teares lindos tecidos para as roupas de seus maridos e filhos, fazendo também redes, mantas, chapéus, xales, saias, vestidos, colchas, guardanapos, todos com linha de algodão e costurados a mão, bordavam também o ponto cruz, ponta atrás, ponto cheio, caroço de arroz, pulsar, bainha, ponto de laçada e crivo, sendo estes os tradicionais da cidade de Chapéu. Usava também a fibra de buriti para fazer cordas, balaios, cestas, esteiras, arranjos e outros. Usavam o capim para encher colchões, travesseiros, almofadas, selas de animais para serem usadas nas montarias. Com as cabaças faziam arranjos, bonecas, bolas, para colocar água de beber, fazer artifício usado para acender cachimbo e cigarro, cuia de lavar alimentos ou como vasilha de alimentar e outros. As senhoras mais abastadas (ricas) usavam também tecidos como linho para roupas que era também bordado, e faziam também saias, blusas lençóis e toalhas para banquete, estas senhoras usavam anáguas e camisas também de linho, madrasta, cambraias, morim. A classe pobre fazia roupa de algodãozinho, algodão tinto, tecido de algodão, não tinha mini-saia, que só veio a ser usada nos anos 80. Os jovens e Adultos, usavam calça boca de sino, paletós, coletes, e ceroulas compridas para os idosos. Faziam calça de pano de algodão colorido, pintado pelas próprias esposas tecelã da Vila. Toda mulher da época tinha a sua roda que fiava para toda família, e as ricas tinha maquina de costura de mão. Era muito comum o uso de bordado em blusas saias, aventais, lençóis, fronhas, colchas, sapatos, diademas, bolsas, cintos, redes e até mesmo em mantas ou xales que as senhoras usavam na cabeça durante a missa. O artesanato também se destacava nas escolas, feito pelas crianças com sua própria criatividade sendo: boneco de cera, bolas de papel cera, animais com pernas de pau, cobra de cera, figuras com penas de galinha, palito de fósforo entre outros. Também usavam areia, barro, grãos de milho, feijão, mamona. A cola usada para as atividades de arte era feita de tapioca cozida. As brincadeiras eram rudes se comparadas a realidade atual, as crianças faziam bola de pano velho e meias velhas, enchiam com algodão, raspa de madeiras e folhas secas.
Comidas Típicas
Na Vila de Chapéu, hoje Monte Alegre, comiam tipicamente bem, e suas comidas eram preparadas pela própria esposa ou filhas, que fazia no fogão a lenha, comida como: paçoca feita de carne seca e passada no óleo de coco, cortado de arroz com abóbora dentro, e às vezes com mandioca, pequi, quiabo, batata doce, maxixe, muncunzá (observação, não encontramos ainda uma escrita correta para esta palavra no sentido de significar o tipo de alimento relacionado ao ingrediente: mistura de arroz, feijão, torresmo e outros, assim escrevemos a palavra conforme a pesquisa e pronúncia até hoje expressada), feijão tropeiro (mistura de feijão com farinha e torresmo), feijão com carne dentro, e ossada de gado, baião de dois, angu, mingau, arroz com costela, costela frita com mandioca, carne assada na brasa, farofa de andu, feijão de corda, feijão catador, farofa de carne de frango, de carne de porco, bode, tatu, capivara, anta, veado, onça e outros.
EMANCIPAÇÃO – MONTE ALEGRE DE GOIÁS
Conforme dados em arquivo, o Arraial Monte Alegre foi elevado à categoria de Vila no Governo Provincial de Antônio Cícero de Assis em 1876. Com a divisão administrativa do Brasil, o município de Chapéu compunha-se de dois distritos: Campos Belos e a Sede. A partir de 1947, o município de Chapéu passou a denominar-se Monte Alegre de Goiás, e neste ano, perdeu o distrito de Campos Belos que conseguiu sua emancipação político-administrativa.
Comunidade Quilombola Kalungas
RELIGIÃO
Os agrupamentos “isolados” Kalunga, assentam-se na microrregião homogênea Chapada dos Veadeiros (005)³ ao Nordeste do Estado de Goiás, limitado-se com os Municípios de Arraias-TO, Monte Alegre de Goiás-GO, Terezinha de Goiás-GO e Cavalcante-GO. Compreende aproximadamente as seguintes coordenadas geográficas: 13°37 de longitude sul e 47°10 a 47°20 a 47°20 de longitude Oeste de Greenwich. Situam-se a 600 km da Capital do Estado de Goiás – Goiânia e a 380 km de Brasília-DF. O acesso faz-se por rodovia asfaltada (GO – 118), via fluvial (Rios Paranã e Almas), estrada a cavaleira sucessivamente, ou ainda por aeronaves, de preferência helicópteros. Hoje a região conta com várias estradas e pontes de acesso as comunidades.
A superfície de 237.000 hectares que compõe hoje “Sitio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga”, abriga 05 (cinco) núcleos principais:
l Contenda
l Kalunga
l Vão das Almas
l Vão do Moleque
l Ribeirão dos bois
Os cinco núcleos principais, que formam o território dos Kalunga subdividem-se em quase uma centena de “agrupamentos” com denominações locais: Contenda, Barra, Saco Grande, Tinquizal, Boa sorte, Bom Jardim, Areia São Pedro, etc., localizadas no município de Monte Alegre de Goiás
A religiosidade dos Kalunga
A religião apresenta-se entre o homem e a divindade, entre o homem e os Santos, entre o homem e as práticas religiosas (magia, adivinhação, tratamentos, amuletos, ladainhas, levantada de mastros, folias, entre outras) A religião dos Kalunga como a religião africana é intimamente social. Os Kalunga acreditam em seres espirituais, almas ou espíritos, esses são os elementos básicos de sua religião. Embora reservem um lugar para a divindade, o culto ao Santo da família e da casa, faz parte de sua prática religiosa.
FESTAS E FOLIAS
As festas reproduzem seu modo de vida e sua visão de mundo, um momento de inconsciente coletivo, uma crônica histórica. Ano a ano os Santos são louvados, a ancestralidade é lembrada, o poder dos mais velhos é legitimado, e a família na presença importante da mulher que retifica seu papel de geradora da linhagem, do clã, do poder sobre o solo-terra. A folia gira por volta de 08 dias no Município de Monte Alegre de Goiás, e nos garimpos próximos. A cantaria é a senha para as portas abrirem, para a esmola ou um pouco da comitiva. De pouso em pouso, cantado, dormindo, recebendo esmola e dançando a “curraleira” dança típica, vão girando e virando as serras de pedras, cascalho e cerrado até chegarem ao lugar da festa. As folias procedem às festas e Romarias. Consistem em grupos de até 15 pessoas que percorrem as casa com a finalidade de arrecadar doações para as festas, ao mesmo tempo anunciam sua realização.
DANÇA
A súcia, segundo cultura do Kalunga, é uma dança de pagar promessa, sagrada! Só é tocada ali nos momentos certos. Na subida ou descida do mastro de Santo ou no momento em que alguma pessoa prometeu para o Santo e chega à hora do pagamento. As mulheres dançam. Algumas vezes, os homens participam. Num ritmo alucinante de batuque as mulheres rodopiam, os pés mal tocando o chão. Colocam garrafas nas cabeças equilibrando-as. Coçam-se uma às outras cantando o maribondo. Postam-se em frente aos que estão fora da roda passando-lhes as mãos o que obriga a entrar na roda. Existe na Súcia, a licenciosidade gestual consentida.
PESSOAS E FATOS QUE MARCARAM HISTÓRIA
No século XIX
Mãe Marinha – A Abnegada
De humilde procedência veio Mãe Marinha, filha de Gertrudes, escrava boa, alegre e chistosa. Devotava à família de sua Sinhá grande amizade. Gertrudes teve três filhas: Maria, Joana e Marinha. Todas com excelentes qualidades. Criadas no solar da grande fazenda Salobro, de Pedro de Alcântara e Silva e D. Rosolinda de Moura, que propiciavam a seus escravos e aos demais subalternos, além de boas condições de vida no dia-a-dia, muitos ensinamentos. O asseio foi sempre exigido com rigor. Era o ponto básico de tudo, pois D. Rosolinda era exigente, mas de coração generoso. Tratava seus criados com apreço e se algum adoecia, ela proporcionava-lhes os cuidados necessários, sem nunca exigir compensações posteriores, conforme o uso da época. Talvez daí a dedicação que todos lhe tinham. Marinha a jovem ex-escrava, cheia de vida e vigor, aos vinte e quatro anos, apenas, ofereceu-se em holocausto para salvar a família de Ana de Alcântara e Silva, filha de sua Sinhá, por quem tinha veneração. Ana de Alcântara, Tiana, como a chamavam, desde seu casamento, passara a residir em Chapéu, distrito de Arraias, que viria a ser o florescente Monte Alegre de Goiás. Naquele tempo em 1.895, achava-se a vila mergulhada na terrível epidemia de varíola. Sabendo da notícia, disse a jovem Marinha:
_ Vou ficar com Tiana, que por certo vai precisar de mim.
_ Não, protestaram os familiares de Tiana, se lá for morrerá da doença.
_ Sou livre, Sinhá Ricarda, _ Vou, Ela precisa de mim.
_ Não sabe a que risco se expõe, Marinha. Não vá.
_ Vou, e apanhando a pequena trouxa com seus pertences, ia partindo sozinha. D. Ricarda, irmã de Tiana, com o coração angustiado, observou-lhe: assim não. Espere um pouco, ao menos lhe demos condução, para que possa ir a cavalo até onde não esteja interditado o caminho para o Chapéu (cerca de quarenta e oito quilômetros de Arraias). E, providenciando, mandou um de seus auxiliares, o Benício, que a levasse até onde fosse possível. Seguiram... Ao chegar num certo córrego, disse-lhe Benício:
_ Marinha, é aqui. Não posso ir adiante.
Marinha, altiva, de pé, cheia de coragem, olhou Benício de maneira expressiva. Lágrimas de gratidão e saudades rolaram-lhe dos olhos. Ela pegou sua trouxa, agora em forma de mala, aprumou-a na cabeça e fitando-o mais uma vez, disse-lhe:
_ Adeus, Benício! E seguiu para nunca mais voltar!
Tendo sido criada com família esclarecida, Marinha tinha noção de higiene, do que se valeu para salvar muitas vidas, com sua caridade. Ela não se limitou a cuidar tão só da família amiga, que, felizmente se recuperou, mas dedicou-se inteiramente, no exemplo belo e admirável. Lançou-se ao atendimento de quantos podia, buscando, de pote na cabeça, nas cacimbas distantes, a pouca água, com a qual dava banho aos doentes, fazendo chás e caldos para todos, em fim, levando socorro ao alcance de todos. Não tardou contaminando-se da doença, que a levou a morte, por falta de quem dela cuidasse, pois os que recuperavam estavam em convalescência, exauridos, sem condições de prestar-lhe qualquer assistência. Anos passaram, João D’Abreu, sobrinho de Ana de Alcântara e Silva, que conhecia o passado de Marinha e admirava lhe as virtudes, achou-se de justiça que lhe prestasse uma homenagem pelo que fez por aquele povo. Assim, quando o Deputado Federal, conseguiu verbas para canalização de água para o Chapéu, hoje, Monte Alegre de Goiás. E mandou esculpir um busto de Mãe Marinha, com dizeres relembrando a fantástica obra de caridade por ela realizada, colocando-o no principal chafariz daquela cidade, no ato de inauguração da estação de abastecimento de águas. É lamentável que o povo desta cidade não o tenha conservado, deixando que o mutilassem e desaparecesse, causando tão má impressão aos que conhecem a sua história. Num opúsculo, Dr. Mário Rizério Leite, da Academia de Letras, conta a tragédia vivida, á época, pelos habitantes do Chapéu, e a nobreza d’alma, doação e heroísmo de Mãe Marinha.
Jonathas da Silva Rangel
Filho de Joaquim da Silva Rangel e Eduvirges Quirino da Costa. Nasceu no pequeno e humilde Arraial do Morro do Chapéu no dia 03 de maio de 1.881. Ainda muito jovem, casou-se com Rosa Antônio de Oliveira e dessa união nasceram sete filhos: Olívia, Maria, Rita, Eduvirges, Ana Maria, Arquimedes e José. Foi um dos primeiros professores da Vila de Chapéu, ministrava aulas na sua própria casa. Era um autodidata, mesmo sem estudar medicina, fazia papel de médico e farmacêutico. Manipulava remédios e curava os doentes. Tinha uma farmácia na sua residência, e salvou a vida de muita gente humilde.
Foi promotor de justiça até se aposentar. Gostava da vida política; como prova desta sua afinidade pela política, sua filha a primeira mulher Montealegrense a ocupar uma cadeira no legislativo.
Morreu no dia 25 de agosto de 1.955, aos 75 anos de idade, deixando a todos um exemplo de honestidade e trabalho, salvando e curando muitas pessoas.
FAMA (Festival de Artes de Monte Alegre)
Durante cinco anos de 1988 a 1992 um espetáculo de cores e sons era assistido a cada ano em Monte Alegre de Goiás por pessoas vindas de várias partes do estado de Goiás e outros estados. Artistas vindos de várias regiões cantavam e declamavam canções e poesias e concorriam às premiações e destaque nas páginas de jornal como o Jornal O POPULAR do estado de Goiás. Nossos Artistas da Terra que representavam Monte Alegre também se destacavam na música, na poesia e na capacidade de organização do FAMA e no amor por suas raízes culturais. O FAMA era realizado paralelo aos festejos de Nossa Senhora do Rosário que enriquecia mais o espetáculo de belezas, fé e tradição de um povo que tem como identidade cultural alegria, arte, hospitalidade e amor ao próximo. O FAMA foi extinto em 1992 por motivos até então não esclarecido. Resta-nos a saudade de ver novamente uma cidade repleta de arte, cores e sons. Há uma dificuldade de reunir os autores desta imensa obra cultural para que possamos resgata - lá e atender a tantos pedidos da volta dos Festivais de Arte. Em 2007 foi criado o FEMAC (Festival Montealegrense de Arte e Cultura) no intuito de resgatar o FAMA.
Sujeito a alterações.
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Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Autoria: Prof. João Celino Xavier Bomfim
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